Apesar de descartar possibilidade de racionamento por enquanto em Fortaleza, Estado prevê medidas severas se não houver economia
Desde que constatou que os reservatórios cearenses não receberam recarga de água satisfatória, a gestão estadual se mobiliza para garantir o abastecimento a médio prazo. Uma das alternativas, que se protela até que se chegue ao limite, é racionar a distribuição de água em Fortaleza e na Região Metropolitana. A medida, por enquanto, ainda não deve ser tomada. O Governo planeja a execução de uma campanha educativa que tentará reduzir em 10% o consumo durante o segundo semestre.
No restante do Estado, 34 cidades abastecidas pela Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) já passam por racionamento. O discurso dos gestores ouvidos pelo O POVO é unânime: se não economizar agora, Fortaleza pode sofrer diretamente os efeitos da seca. A exemplo de São Paulo no início deste ano.
Abastecida, basicamente, pelo açude Castanhão (que opera com 20,8% da capacidade total), a Capital ainda não tem sentido os impactos da estiagem porque o fornecimento não foi restringido. No entanto, se os açudes não tiverem recebido recargas consideráveis nesta estação chuvosa e se o consumo da região continuar alto, o racionamento será aplicado. “Se não usarmos a água de forma consciente neste período, teremos um racionamento mais brusco no ano que vem. Aí a meta não seria mais economizar 10%, mas 20%, 30%”, alerta Francisco Teixeira, titular da Secretaria dos Recursos Hídricos (SRH).
Redução do uso
Teixeira adianta que reduções já têm sido feitas nos setores industriais, agrícolas e de irrigação. Nessa ação, para aqueles que não colaborarem, afirma, o Estado deve entrar com medidas coercitivas junto ao Ministério Público (MPCE). “A gente quer diminuir o consumo de água dentro da margem que o sistema produtivo permite”.
Para Helder Cortez, gerente de Saneamento Rural da Cagece, a dificuldade de economizar água nas cidades-sede do Estado se deve pelo hábito. “O abastecimento rural pode acontecer sem grandes transtornos porque lá o cotidiano é assim. Mas, na sede de um município onde todos têm hábitos urbanos, é complicado receber água de carro-pipa”.
Com o impacto da estiagem nestes locais, a prioridade do Estado, hoje, é evitar que o abastecimento da zona urbana entre em colapso. Para isso, ações emergenciais e estruturantes tendem a se complementar. Em lugares que esperam por uma adutora de montagem rápida, por exemplo, a escavação de um poço profundo e a injeção deste no sistema de abastecimento da cidade são atitudes essenciais para manter a oferta. “O Ceará tem a melhor estrutura hídrica. Nenhum outro Estado suportaria quatro anos de seca”, avalia Helder Cortez.
Saiba mais
Em 2015, após uma estação chuvosa fraca, o Estado recebeu o aporte de apenas 0,54 bilhões de metros cúbicos de água – aproximadamente dez vezes menos do que o acumulado em 2004 (19,02 bilhões de m³).
A construção do eixo norte da transposição do rio São Francisco, que levará água da Paraíba para o Ceará, está 76% concluída, de acordo com a SRH. Nas obras, trabalham, hoje, 9.241 homens.
Possivelmente, segundo a SRH, as águas do açude Orós devem se unir às do Castanhão no segundo semestre para abastecimento de Fortaleza.
Até o fim do ano, o Garantia Safra – programa custeado por verba federal – pretende compensar as perdas na safra de até 334.113 agricultores em 182 municípios cearenses.
Embora tenham consciência de que os setores industriais e de irrigação consomem muita água, gestores estaduais reforçam que, se o Ceará reduzir muito a oferta, haverá prejuízos nos setores econômicos.