Governador visitou obras do Cinturão das Águas e cobrou do Governo Federal velocidade nos repasses para as obras. Número de trabalhadores, que já foi de 3,2 mil há sete meses, é hoje de 1,3 mil
Com reservas de água em um dos menores níveis já registrados, o Governo do Estado pretende reduzir em pelo menos 10% o consumo no Ceará, apesar de rechaçar racionamento. O volume acumulado ontem nos açudes monitorados pela Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh) era de 19,9%.
Já foram tomadas medidas para diminuir o uso na agricultura e há iniciativas para combater ligações clandestinas e perdas por vazamentos. O próximo passo será uma campanha contra desperdício.
“Estamos hoje com um dos menores índices de reserva de água da história. A população ainda tem a ideia de que, após quatro anos de pouca chuva, é como se Fortaleza não tivesse seca”, apontou o secretário estadual dos Recursos Hídricos, Francisco Teixeira. Ele aponta a meta de ao menos 10% de economia. “Se tivesse 15%, seria ótimo. Aí a gente evita qualquer risco de racionamento, ao menos até o fim de 2016”.
O governador Camilo Santana (PT) informou que pretende lançar a campanha contra o desperdício no Dia Mundial do Meio Ambiente, em 5 de junho.
Garantia para o Ceará
Camilo visitou ontem obras do Cinturão das Águas, acompanhado de comitiva de deputados estaduais. Ele conferiu, em Jati, o local em que se espera que cheguem, pela transposição do rio São Francisco, as águas que deverão abastecer o Cinturão.
O governador reforçou que, em reunião na última quarta-feira, a presidente Dilma Rousseff (PT) se comprometeu com a chegada da água ao Ceará até junho do ano que vem. A conclusão da transposição é crucial para garantir o abastecimento da Região Metropolitana de Fortaleza após 2016.
“Caso se repita, no ano que vem, o inverno deste ano, o Castanhão consegue garantir 2016 para a região mais populosa do Estado. E aí é preciso pensar no futuro hídrico do Ceará”.
Crise no Interior
Já há 50 sedes de municípios em que a principal fonte de água é hoje a perfuração de poços. Caso, por exemplo, de Boa Viagem. “Não tem opção de fazer adutora para trazer água de canto nenhum. Num raio de 200 km de Boa Viagem, não tem açudes com água para poder trazer para Boa Viagem”, disse Teixeira.
A primeira etapa do Cinturão das Águas, no Cariri, é estratégica, principalmente, por levar água da transposição ao segundo trecho, que abastecerá a parte mais seca do Ceará: Inhamuns e Sertão de Crateús. A previsão é que o primeiro trecho do Cinturão das Águas, de Jati a Cariús, seja concluído junto com a transposição, em meados do ano que vem.
“Se continuar no ritmo em que está, dificilmente nós vamos conseguir”, admitiu Camilo, cobrando do Governo Federal mais velocidade na liberação de recursos.
Atualmente, 1.315 pessoas trabalham no Cinturão das Águas, já com a retomada de obras que chegaram a ser paralisadas na virada do ano. Mas o patamar é bem inferior ao que era mantido até outubro de 2014, quando eram 3,2 mil trabalhadores na primeira etapa. A segunda fase, de Cariús a Jaguaribe, está licitada, mas só começará após a conclusão do primeiro trecho.
Saiba mais
Perdas de água
Grupo técnico, coordenado pelo secretário dos Recursos Hídricos, com participação de Cogerh, Superintendência de Obras Hidráulicas (Sohidra), Cagece, Defesa Civil do Estado e Funceme, tem se reunido semanalmente e discute o cenário hídrico do Estado. Tem sido discutido com a Cagece como reduzir as perdas decorrentes de ligações clandestinas e vazamentos. Esse índice foi de 24,75%, conforme medição de agosto de 2014, e é considerado um dos menores do País.
Agricultura
Tem havido também fiscalização sobre produtores agrícolas para adotar métodos mais modernos. Inclusive, com redução de áreas irrigadas. “Com o pouco que sobrou, porque grande parte da agricultura já não tem mais a água perene”, disse o secretário Francisco Teixeira.
Problemas nas sedes
Os problemas de abastecimento de água são recorrentes nas zonas rurais dos municípios, mas, desde o fim de 2013, sedes municipais começaram a ser afetadas. “Até hoje, conseguimos encontrar solução, através de adutoras de montagem rápida, trazendo água de outro reservatório”, disse Teixeira. Ele relata que há cidades, como Canindé, que já está no quarto sistema, trazendo água cada vez mais de longe. Em Crateús, a água chega por uma adutora distante 150 km. “Essas dificuldades aumentam”, disse o secretário dos Recursos Hídricos.