A crise hídrica dá sinais de que persistirá no cotidiano das cidades. Planejamento e reconfiguração do uso da água são necessários para agricultura, indústria e consumo doméstico.

O sinal de alerta sobre o acesso à água – já desigual e complicado para muitos – foi acionado com força total em 2014 no País. Termos como escassez, volume morto, reservatório, racionamento, recarga não eram comuns para parte da população urbana e, agora, chamam a atenção e compõem as conversas.

No Sudeste, em especial em São Paulo, os níveis dos reservatórios e as altas demandas fizeram com que a crise hídrica e suas marcas econômicas, políticas e sociais pulsassem no cotidiano da população. A situação ainda assusta por incluir processos não transparentes do cenário real.

No Ceará, a entrada em 2015 apontou para mais uma perspectiva de chuvas abaixo da média, o que representaria o quarto ano de escassez de água no Estado. Enquanto a Capital ainda não sente fortes impactos na disponibilidade de água, diversas sedes de municípios já titubeiam em quais saídas são possíveis neste cenário.

E o cenário deste ano é de atenção e menor disponibilidade de água para evitar desabastecimento em alguns locais, afirma o titular da Secretaria dos Recursos Hídricos (SRH) Francisco José Coelho Teixeira. “Será um ano difícil e de muito trabalho”, afirmou.

O professor doutor Francisco de Assis de Souza Filho, coordenador da pós-graduação de Engenharia Hidráulica e Ambiental (Deha) da Universidade Federal do Ceará (UFC), explica que, mesmo que houvesse uma manutenção da disponibilidade hídrica, o crescimento cada vez maior da demanda por água fará com que os eventos de seca sejam mais frequentes para a sociedade.

Quando a Companhia de Gestão e Recursos Hídricos (Cogerh) começou a operar em 1994, a demanda da Região Metropolitana de Fortaleza era da ordem de grandeza de 5m³ por segundo. Hoje a demanda da RMF, incluindo o Pecém, é de 12,7m³”, relatou. Assim, uma reconfiguração do uso é imprescindível, o que passa pelo consumo de água pela agricultura – maior consumidora, a indústria e o cidadão em sua casa.

A demanda crescente impõe uma situação de cada vez mais escassez e essa escassez vai ser traduzida em eventos de seca. A gente vai viver no limite da oferta e da demanda”, complementou o pesquisador.

A oportunidade da crise

Para o vice-diretor do Centro de Tecnologia da Universidade Federal do Ceará (UFC), o professor Marco Aurélio Holanda de Castro, as áreas de abastecimento de água, saneamento, drenagem e resíduos sólidos sempre foram desprezadas no que concerne aos gastos dos recursos públicos.

E, se existe algo positivo no atual cenário é que a necessidade de priorização está sendo colocada na frente dos gestores pela população – que sente na pele as dificuldades que já existem e aquelas que virão. “A população tem que encarar o recurso hídrico como realmente um bem precioso e finito. E, principalmente, os gestores precisam entender isso, porque acaba essa fase e vem outra com mais água nos reservatórios e o assunto acaba esquecido. Até a próxima crise, que virá”, alertou Marco Aurélio, professor do Deha.

http://www.opovo.com.br/app/opovo/cienciaesaude/2015/02/07/noticiasjornalcienciaesaude,3388998/para-conviver-com-a-escassez-de-agua.shtml

RESISTÊNCIA E CONVIVÊNCIA COM A ESTIAGEM

Novas formas de conviver com a estiagem cíclica e suas consequências vêm sendo construídas, compartilhadas e ampliadas ao longo dos anos no semiárido brasileiro. No cenário, a resiliência ganha nova importância.

É o quarto ano de muita resistência dos agricultores e agricultoras”, ressalta Cristina Nascimento, da coordenação no Ceará da rede Articulação Semiárido Brasileiro (ASA). Ela explica que ainda houve muitos agricultores que conseguiram captar água nos últimos anos, tentando aproveitar qualquer quantidade de chuva para estocar.

Além da infraestrutura hídrica, uma frente de trabalho importante, ressalta, é o fortalecimento da relação das comunidades com o meio ambiente, com práticas que não atinjam as áreas de forma negativa.

Aquelas famílias que têm trajetória de acesso às tecnologias e que participam dos espaços de políticas e de construção de conhecimento têm mais estratégias de cautela para passar por isso”, comentou Cristina.

Para além das estruturas, a assistência técnica e o diálogo para a solução de problemas por meio processos de aprimoramento das tecnologias sociais são essenciais para uma amplitude e continuidades dessas ações.

O coordenador da pós-graduação de Engenharia Hidráulica e Ambiental da UFC, Francisco de Assis de Souza Filho, diz que o semiárido ainda carece de mais planejamento do território para aplicação racional de ações, além da ampliação das ações que já são realizadas. 

Segundo Cristina Nascimento, há o esforço e colaboração com a Embrapa Agroindústria Tropical e o Instituto Nacional do Semiárido (Insa) para buscar meios para que as pesquisas realizadas possam contribuir com o conhecimento dos agricultores e agricultoras e melhorar a vida das comunidades. (Samaisa dos Anjos)

http://www.opovo.com.br/app/opovo/cienciaesaude/2015/02/07/noticiasjornalcienciaesaude,3389006/resistencia-e-convivencia-com-a-estiagem.shtml

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