Fontes da indústria e da agropecuária disseram que o Governo deve assumir a gravidade da situação
Prevenindo-se contra o pior – que está previsto para o segundo semestre deste ano – a Cagece e a Cogerh adotam providências para reduzir em 30% a oferta de água tratada para o consumo da população de Fortaleza e Região Metropolitana. A medida é consequência do agravamento da crise de oferta hídrica e da certeza de que, como previu a Funceme, 2016 será o quinto ano consecutivo de chuvas abaixo da média, incapazes de recarregar os açudes do Estado, principalmente os que abastecem a capital, como o Orós, o Castanhão e o Banabuiú.
O comando dos recursos hídricos do Ceará teme que a pouca água existente hoje no Castanhão (com menos de 9% de seu volume total de 6,5 bi de m3), no Orós (40% dos 2,2 bi de m3 da capacidade) e no Banabuiú (completamente seco) não seja suficiente para garantir – até fim do ano – o abastecimento humano, animal e industrial de Fortaleza e de seu entorno e do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (só a usina siderúrgica consumirá 0,4 m3/s).
Uma dessas providências – adotadas agora – está ligada à Estação de Tratamento de Água (ETA) da Cagece, localizada à jusante do Açude Gavião. Essa ETA está tratando só 70% da água que pode tratar. Com isto, a oferta de água tratada à Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) será reduzida em 30% – como informou, ao Diário do Nordeste uma fonte diretamente ligada ao encaminhamento das soluções para reduzir o tamanho do problema. Antes disso, a Cogerh já havia reduzido por duas vezes a oferta de água para as atividades econômicas no Baixo Jaguaribe, sempre com o objetivo de garantir a oferta permanente de 9,5 m3/s à (RMF).
O resultado dessa redução foi a queda da produção de banana na Chapada do Apodi, com o consequente desemprego de centenas de pessoas.
A mesma fonte revelou que a Cogerh, a Cagece e o Palácio da Abolição ficaram frustrados com o resultado de uma ação mal planejada – a de aplicação de multa aos consumidores domésticos que não cumpriram o compromisso de poupar 10% do consumo de água.
Nos condomínios residenciais verticais de Fortaleza, especialmente os localizados nos bairros de Aldeota, Meireles, Cocó, Fátima e Guararapes, essa frustração foi maior: a maioria deles vem pagando a multa cobrada, mas, ao mesmo tempo, mantém o excesso de consumo. As autoridades que tratam dos recursos hídricos concluíram que essa multa é inócua.
Fontes do empresariado da indústria e da agropecuária disseram a este colunista que o Governo do Estado deve assumir a gravidade da situação, e sugerem que ele promova uma campanha de mídia por meio da qual exponha a gravidade do problema e apele para a necessidade de imediata redução do consumo de água por parte de todos.
Mas o próprio empresariado reconhece que uma campanha assim também não terá efeito prático, uma vez que não é da índole do brasileiro – o cearense no meio – assumir um comportamento poupador de água. “A saída é uma só, o racionamento” – diz um agropecuarista com o apoio de um industrial. Eles preveem: “Sem racionar o uso da água a partir de agora, Fortaleza ficará desabastecida antes do fim do ano”.
A Coordenadoria de Imprensa da Casa Civil do Governo do Estado transmitiu, a este colunista, a seguinte mensagem:
“Não identificamos nenhum tipo de orientação vinda nem da Casa Civil, nem do Gabinete do Governador para redução de distribuição de água pela Cogerh ou pela Cagece. As decisões sobre redução ou aumento da distribuição da água e o gerenciamento dos mananciais de cada uma das bacias do estado se dão através das reuniões dos Comitês de Bacias Regionais, que são grupos constituídos por representantes dos setores produtivos, da sociedade civil, dos governos (federal, estadual e municipais), etc. Nessa reuniões, são avaliados os níveis dos reservatórios de cada bacia e as necessidades de cada setor, tendo como prioridade o consumo humano e a dessedentação animal. A partir daí, definem-se os critérios de liberação da água e outras medidas que sejam necessárias para o uso dos recursos hídricos na região”.