Já a Funceme diz que as condições são favoráveis para que as chuvas retornem nos próximos dias
O presidente da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), João Lúcio Farias, disse na manhã de ontem durante reunião de Avaliação de Alocação de Água dos Vales Jaguaribe e Banabuiú, realizada nesta cidade, que o Ceará atravessa um dos piores momentos da crise hídrica que vem se agravando desde 2012. “O momento é muito preocupante, estamos chegando numa situação limite, mas ainda há esperança porque temos a segunda quinzena deste mês e todo o abril”, frisou.
A esperança de que as chuvas vão retornar ao sertão cearense foi reforçada com a explanação da meteorologista da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), Meiry Sakamoto. “As condições são favoráveis para que as chuvas retornem, segundo os nossos modelos, e tivemos o melhor fevereiro desde 2007”, disse. “A situação está melhorando desde hoje (ontem) com mais nebulosidade e aumento das chances de novas chuvas”.
Se o mês de fevereiro foi o melhor desde 2007, março está sendo ingrato com a redução drásticas das chuvas na primeira quinzena por causa do afastamento e enfraquecimento da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), que é o principal sistema que traz precipitações para o Semiárido nordestino nessa época do ano. A escassez das chuvas caracteriza o que se denomina de veranico. Até ontem, havia chovido menos 78% do que se esperava para março. Vale salientar que os números são provisórios e podem ser alterados até o fim desde mês.
Certas condições meteorológicas, como a formação de um centro de alta pressão, impediram a formação de nuvens de chuvas no decorrer da primeira quinzena de março, reduzindo a pluviometria. No Oceano Pacífico Equatorial a temperatura é favorável com formação de La Niña, esfriamento das águas superficiais. No Oceano Atlântico Equatorial há neutralidade e bem melhor seria se houvesse o aquecimento na parte Sul em relação ao Norte.
Por alguma razão meteorológica que ainda está sendo estudada, as condições atuais persistiam durante a segunda quinzena de fevereiro, quando houve uma aproximação da ZCIT que permaneceu sobre o Ceará, favorecendo as intensas chuvas. A meteorologista Meiry Sakamoto esclareceu que o prognóstico da Funceme é feito para todo o trimestre – março, abril e maio e para o Estado como um todo. “A previsão não é feita para a semana ou mês, mas para o trimestre”, reforçou. “As condições para o período ainda permanecem de ocorrência de chuvas acima da média”.
Redução
A redução das chuvas, se persistir, vai afetar a recarga dos principais reservatórios do Ceará. Os açudes da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) acumulam um volume médio suficiente para atender à demanda até setembro vindouro. “Estamos na expectativa de que as chuvas vão voltar e que teremos maior volume de recarga”, observou João Lúcio. “O quadro nos traz preocupação, mas só podemos ter um novo planejamento, após o fim da quadra chuvosa em maio próximo”.
Por enquanto, o Castanhão continua sem liberar água para a RMF e está atendendo à demanda de oito cidades do Baixo Jaguaribe e de outros centros urbanos do seu entorno. O reservatório, que é o maior do Ceará, está com 3,8%.
Na reunião de ontem ficou decidido que, se atingir a cota 71, ou seja, chegar a 301 milhões de metros cúbicos, haverá liberação de água para atividades produtivas.
O açude Orós, que é outro reservatório estratégico, acumula apenas 6,3% e o Banabuiú, o terceiro maior do Ceará, enfrenta a pior situação com 0,44% de seu volume.
A Bacia do Banabuiú é uma das mais afetadas e, segundo o produtor rural Daniel Bandeira, até ontem só choveu 27mm no entorno do açude. “Enfrentamos uma situação triste”, disse. “Estamos numa região que sofre com a seca há oito anos”.
O presidente da Cogerh, João Lúcio, observou que este ano segue uma tendência do que se verificou em 2017, quando houve maiores volumes de chuva nas Bacias do Coreaú, Acaraú e Litorânea. “Há municípios que já temos garantia de água para 2018 e até para o começo de 2019”, observou. “Já Banabuiú e o Sertão Central nos preocupam e houve uma pequena melhora nos Sertões de Crateús”.
João Lúcio lembrou que as regiões de Crateús e do Sertão Central já vivenciam oito anos de crise hídricas, redução das chuvas. Apesar de todas as dificuldades enfrentadas, o presidente da Cogerh enfatizou. “Se não fosse o trabalho técnico, feito no Ceará, que surpreende quem vem de fora, a nossa situação era muito mais grave, não conseguiríamos enfrentar um período tão crítico como este”.
Ao fim da reunião foram encaminhadas oito propostas que estão relacionadas à necessidade de compensações para as bacias doadoras de água, moção ao Conselho Estadual de Recursos Hídricos (Conerh) que definiu decreto reduzindo autonomia dos Comitês de Bacias Hidrográficas, maior empenho do governo do Estado para conclusão das obras de transposição do Rio São Francisco e solicitação ao Dnocs sobre o andamento das obras hídricas no Estado.